quarta-feira, 22 de abril de 2009

Lembrando-me da conversa

que tive com o João Quintas num dos memoráveis jantares do In-Cesto Basket Club acerca dos problemas de que estão na origem de todos os outros, falavamos da valorização do Ter em relação ao Ser. Fiquei animado com as palavras de Fernando Nobre sobre o mesmo:

(...)


Acredito plenamente que o “ser” tem que se sobrepor ao “ter”. Sei que não é o sentimento dominante neste início de século preocupado por uma globalização essencialmente financeira e especulativa, pelo vírus da ganância que galopa na mente de certos “yuppis” e de certas “empresas”, por uma tecnologia que parece tudo explicar e dominar (...)


(...)


O “ter” é ilusão, é pura aparência, é efemeridade, é indiferença, é intolerância, é enfermidade, é solidão. O “ter” não tem esperança porque se esgota nele próprio, alimenta-se dele próprio exigindo sempre mais “ter”! Que saída para essa quadratura do círculo, para esse não senso que alguns tentam erguer em novo paradigma querendo fazer-nos crer que é a única via para a resolução dos problemas da humanidade? Só há uma: inversão de marcha em direcção ao “ser”. Não é fácil, espera-nos muita frustração (tanto maior quanto menos “ser” houver...) e alguma satisfação sobretudo aquela de sabermos que, no mais íntimo do nosso ser, estamos no caminho certo, na única via para a criação da Paz e da Harmonia entre os seres humanos.

“Ser” é humanidade, consciência social, livre arbítrio, liberdade, igualdade, fraternidade, solidariedade, cultura, preocupação ambiental, ecumenismo, tolerância, aceitação e preocupação do outro... Este é o meu pensamento, a minha opção, o meu testamento. Não de um rato de sacristia!, mas de um cirurgião que muitas vezes teve vidas entre as mãos, de um operacional que percorreu o Mundo e de um homem que sabe perfeitamente como é a morte e que gostaria de a enfrentar olhos nos olhos com o mínimo de angústia e medo. Só e apenas isso. Tentar “ser”.

E se tentássemos todos?

(in Contra a Indiferença por Fernando Nobre)

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